Indústria de brinquedos considera câmbio e CLT como impeditivo para se desenvolver no Brasil

Fernando Teixeira

SÃO PAULO – A desvalorização do dólar frente ao real e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) são apontados por indústrias de brinquedos como os principais fatores para o não desenvolvimento deste setor no Brasil. Para barrar a invasão de produtos chineses nas prateleiras, a Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq) ambiciona aumentar a produção nacional em 70%. Além disso, querem que multinacionais se instalem no Brasil para aumentar a produção nacional.

O presidente da Brinquedos Estrela e diretor Abrinq, Carlos Tilkian, ressalta que o produto nacional é superior ao importado da China e que o volume de importados no mercado se deve a medidas macroeconômicas. “O gap gerado entre o valor do real perante o dólar já traz uma diferença de 40% nos custos. Soma-se a isto uma grande carga tributária, a maior do mundo. Além do que, na China existe flexibilidade nas leis trabalhistas. Aqui, as leis são do tempo de Getúlio Vargas.”

Leia também: Além do aumento de IOF, governo deveria cortar juros, diz Fiesp

Confira: Importadores de brinquedo não sentem medidas do governo

Tilkian destaca como entrave para o desenvolvimento das industrias de brinquedos, os incentivos dados por alguns governos estaduais. “Alguns estados fazem a isenção de Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para receberem mercadorias em seus portos. Contudo, para o produto nacional há aumento de impostos. O importado não gera riquezas no Brasil. São incoerências que o setor luta para não migrar a produção para China.

Segundo o executivo, as dificuldades não atingem apenas indústrias de brinquedos, mas o setor fabril como um todo. Tanto que o setor discute com o governo medidas para tornar o Brasil mais competitivo, independentemente das variações de câmbio. “A presidenta Dilma já sinaliza com a desoneração da folha. Precisa deixar de penalizar quem gera emprego e distribuir a carga social entre empresas e produtos importados. Os produtos se beneficiam de quem está aqui, mas não gera empregos, não ajudam na educação e não sustenta a aposentadoria. O mínimo é fazer com que os importados paguem custos do INSS.”

No ano passado, cerca de 40% do faturamento da Brinquedos Estrela veio através de importações. “Embora tenhamos duas fábricas e estarmos prestes a inaugurar a terceira no nordeste, temos que abrir espaço para importar da China os produtos que tenham custos mais baixos.”

A nova fábrica será inaugurada em Sergipe, no mês de maio. A fabrica atenderá a demanda do Norte e Nordeste. Com a expectativa de fechar o ano com 20% de crescimento em 2011, a empresa apostará em lançamentos de jogos em 3-D e relançamento de clássicos como o Ferrorama.

Do lado das fabricantes de menor porte, a história e críticas ao modelo macroeconômico não são diferentes. A fabricante Calesita (antiga Rivaplast), migrou da Argentina para o Brasil há 11 anos. Embora os diretores da empresa prezem pelos produtos nacionais e evitem importar insumos e máquinas, a diretora de marketing, Analú Stefanelli, destaca ser “extremamente complicado produzir no Brasil”.

Analú relata as dificuldades de competir com os produtos importados: “O valor agregado dos nossos produtos é muito alto e o investimento em máquinas é muito caro no Brasil. Os moldes são de aço inox. Competir com os chineses é extremamente incomodo; embora a qualidade já tenha melhorado.”

A diretora avalia que além da desvantagem do câmbio, a mão de obra brasileira é muito custosa. “No Brasil temos o aumento de salário e isto reflete no preço do produto. Já na China o empregado custa menos.”

Para crescer 20% em 2011, a empresa investiu R$ 5 milhões para ampliar o centro de distribuição e melhorar a qualidade de suas máquinas. A empresa pretende focar seus esforços em mercados como o norte e nordeste. “Cerca de 10% dos nossos produtos são exportados para Argentina e Europa. Queremos abrir mais o leque de exportação, mas não devemos aumentar as importações, pois, nem sempre os preços são competitivos no nosso segmento.”

Ela argumenta que as indústrias importam produtos para melhorar o mix de produtos, embora a qualidade do produto nacional seja superior ao chinês.

http://www.blogfernandoteixeira.wordpress.com

Explore posts in the same categories: jornalismo

Tags: , , , , , , , ,

You can comment below, or link to this permanent URL from your own site.

One Comment em “Indústria de brinquedos considera câmbio e CLT como impeditivo para se desenvolver no Brasil”

  1. Gustavo Says:

    Acredito quando os fabricantes dizem que é muito difícil produzir no Brasil mas, também acredito que ainda é possível reduzir muitos outros impostos antes de chegar aos da folha de pagamento e direitos do trabalhador garantidos pela CLT.
    Infelizmente acho que o Governo começará pela CLT, piorando ainda mais os direitos do trabalhador.
    “No Brasil, temos o aumento de Salário… na China o empregado custa menos.” – Tá vendo? Quer dizer que, se não tivessemos alguns direitos previstos na CLT, nunca teríamos salário digno e reajustado todo ano? As empresas, de um modo geral, precisam amadurecer – e muito – antes de começarmos a pensar em “flexibilizar” os direitos e tributos de um trabalhador…


Deixe um comentário